sábado, 21 de abril de 2012

O "CRISTO" DA VELHA ELITE

   "(...) Como a Independência brasileira foi conduzida por um próprio filho da monarquia portuguesa, a figura de Tiradentes, já no Império, foi edulcorada, podando-se seu aspecto revolucionário e tornando-o um mártir quase conformista, cuja efígie de Redentor tinha muito das características de Cristo. A realidade foi bem diferente, Tiradentes morreu sem renegar suas ideias e assumiu pessoalmente a responsabilidade por suas ações em favor de uma pátria livre.
  A ideia de ruptura sempre foi evitada pelas elites nacionais. Os que se recusaram a seguir o figurino pagaram caro a ousadia, como os participantes da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, em 1824, ou os integrantes dos movimentos armados antiditatoriais da década de 70, no século passado. A filosofia prevalecente na elite brasileira foi a de que, diante de mudanças inevitáveis, dever-se-ia ceder só na forma, e quase nada no conteúdo. Assim foi com a Independência (liderada por um membro da família real e com o apoio dos donos de terra, sem mexer na estrutura social) com a Abolição dos Escravos (sem reforma agrária), com a República (um golpe militar, que conservou o poder das oligarquias), com as redemocratizações de 1946 e 1988 (sem punições dos torturadores e dos responsáveis pela demolição do Estado Democrático de Direito). (...)."

  (O POVO, em Editorial)

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