"(...) Como a Independência brasileira foi conduzida por um próprio filho
da monarquia portuguesa, a figura de Tiradentes, já no Império, foi
edulcorada, podando-se seu aspecto revolucionário e tornando-o um mártir
quase conformista, cuja efígie de Redentor tinha muito das
características de Cristo. A realidade foi bem diferente, Tiradentes
morreu sem renegar suas ideias e assumiu pessoalmente a responsabilidade
por suas ações em favor de uma pátria livre.
A ideia de ruptura sempre foi evitada pelas elites nacionais. Os que
se recusaram a seguir o figurino pagaram caro a ousadia, como os
participantes da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, em
1824, ou os integrantes dos movimentos armados antiditatoriais da década
de 70, no século passado. A filosofia prevalecente na elite brasileira
foi a de que, diante de mudanças inevitáveis, dever-se-ia ceder só na
forma, e quase nada no conteúdo. Assim foi com a Independência (liderada
por um membro da família real e com o apoio dos donos de terra, sem
mexer na estrutura social) com a Abolição dos Escravos (sem reforma
agrária), com a República (um golpe militar, que conservou o poder das
oligarquias), com as redemocratizações de 1946 e 1988 (sem punições dos
torturadores e dos responsáveis pela demolição do Estado Democrático de
Direito). (...)."
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