10 de dez. de 2013

O OUTRO QUE EU RENEGO

  A gente saboreia o pão no café da manhã. Sem pensar em quem suou tanto para que ele chegasse a nossa mesa. O leite está ali. Alguém acordou de madrugada para ordenhar as vacas. Mas esse alguém parece ser ninguém. O biscoito veio da padaria. Mas padaria, dona Maria, não funciona só. A chaminé de lá foi alimentada. O fogo não ficou tão alto à toa. Quando a gente vai pro trabalho, depois do bom cafezinho, senta-se na cadeira do ônibus conduzido por um senhor, que largou a cama de madrugada e está ali, apurando dinheiro e produzindo riqueza. Pros outros. No trabalho você se junta a uma turma que vai cortar, aparar, ajeitar, por e retirar,... Tudo isso por um salário que mal dá pro alimento, deixando fora dele a vestimenta, a medicação e o descanso reparador. E a gente vai vivendo, com a impressão de que as pessoas que nos ajudam a conduzir a vida não são... gente! É o nosso jeito de renegar o outro. E a nós mesmos!

João Teles de Aguiar
Professor e membro da APL

Texto publicado pelo Blogue da entidade

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