25 de jan. de 2015

BOM DIA, POESIA!



"Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público, com livro de ponto, expediente, protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções, sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos, sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja, fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos, secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar as mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
- Não quero saber do lirismo que não é libertação.
Manuel Bandeira - Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974.

Nenhum comentário:

30

AV. BEIRA MAR NO ABANDONO

Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!