29 de mar. de 2020

ATUAL, SEU CARLOS. BEM ATUAL

ELEGIAS, 1938
 Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
 Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
 Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
  À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
 Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
 Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
 Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva. Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan."
Carlos Drummond de Andrade

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AV. BEIRA MAR NO ABANDONO

Nem o belo logradouro escapa. Triste fim de uma gestão lastimável!